quinta-feira, 13 de fevereiro de 2025

Retorno... Auto cuidado e parceria.

 


Oioi... Tô voltando a escrever aqui, meio sem graça, sem jeito. Desculpas a parte, ( e são muitas), e motivos também, ( quem dera eu não os ter), aqui estou de volta, descaradamente, escrevendo, arranhando a parede com as unhas. Rabiscando sobre o ser, o sentir e esse cotidiano vil.

Um empurrão na areia para lançar o barco. Tô observando. Mão no queixo, olho serrado "e boca Piu". Mas os dedos, há os dedos... Rs

Esse lance, quase negócio, de achar o seu caminho, de se valorizar, focar em si, e se impor diante do que que te afeta, me parece coerente e necessário.

 É importante. Todavia, desbandeirar por essa senda, assim sem freio ( leia-se reflexão), parece ser mais praticável enquanto só. Tenho reparado que quando rumamos a qualquer custo, mar a dentro na direção do que queremos e empurrando com o pé para longe o que não queremos, assim, só por que não queremos, porque cansa, porque é chato, porque... Porque me desagrada, empurramos também o outro que chamamos de parceria. Vejo que o auto cuidado é o irmão gêmeo bacana do egoísmo. É difícil distinguir. Buzinas, trânsito das 18:00 horas, boletos, o player político no trabalho, o cansaço típico da quinta feira, todos juntos com os lábios roçando a sua orelha e em um burburinho típico de feira de domingo, sussurrando hastags, arrobas e asteriscos sem descanso. Fatores externos pruriginosos. Eles tornam quase impossível ver com clareza quem é quem. Qual delas é a Rute e qual é a Raquel?

E é nessa fumegante bregadeia que focando em nós, avultamos o eu, e esquecemos que aquela pessoa que está comendo um quilo de sal conosco também tem querer. Também se desgasta, também faz votos de felicidade para si e sofre interferências urbanas enquanto vive seus dilemas. E pasme, ela também tem a sua jornada, desejo de se tornar quem se é. E para além disso, também quer se impor, empurrar seu barco, afastar de si o que desagrada. 

É... E é nesse bolo doido em que o pau quebra na casa de Noca que casais que se amam rechacam um ao outro, pois é no covil sujo do convívio que ambos querem a casa limpa mas é insuportável limpar a sujeira do outro. E sim, você e o outro sempre deixam um resíduo, uma almisca chata que insiste em impregnar. 

A pessoa "A" é uma bagunceira compulsiva, fazendo a casa parecer uma pocilga cheia de crianças, mas, sem crianças. Limpa, arruma e logo depois bagunça denovo. Mas quer a casa sempre arrumada e ajuda imediata na limpeza infinita do seu ritual bisonho. 

A pessoa "B" não é bagunceira, é média, mas não quer participar dessa tortura, não consegue imaginar Sísifo feliz. A primeira reclama da bagunça que provoca, a segunda quer a casa limpa e arrumada, mas sem ser ter que passar todo o tempo arrumando. Cobra que "A" coloque as coisas em suas "casinhas". Ambas odeiam limpar e arrumar, ambas querem limpo, ambas não podem custear uma diarista. Ambas querem ser felizes, ambas não aceitam as verdades que escutam. Ambas querem só o que querem sem considerar o grande outro, que vira um monstro barrigudo de piercing no septo. 

Se por na ponta da Bic, dois juntos gastam por três e sujam por quatro. Ainda é um desejo de muitos viver a dois, inclusive o meu. Entretanto, esse nó de corrente dói os dedos quando insistimos em desatar. Fazendo parecer mais viável e confortável desatar a parceria. Mas, não queremos o que queremos. 

Suspiro aqui.

quarta-feira, 17 de julho de 2019

Chilreio


"Dormir na roça e poder Ouvir os grilos tocando seus cavaquinhos ao longe,  é uma dádiva.

Ter um grilo dentro de casa ecoando o seu ruído infernal em todos os comodos  é um convite a loucura.
(...)
Tem coisa que só é boa de longe."


24/07/19 21:00h

terça-feira, 16 de julho de 2019

Make, camera, padrão...


Não dá para guardar um candeeiro aceso debaixo da cama e pensar que não haverá conseqüências... 
Pois o fogo mastiga tudo e todos sem misericórdia e sem acepção, se alastrando como a peste. 

Pelo mesmo motivo não dá para disfarçar a intolerância, maquiar o asco ou esconder o ódio. 
Pode até tentar, mais a opinião tóxica, aquela que tentam suavizar com palavras neutras, tons brandos e discursos de fé,
transparece na face.
 Ela esquenta, sovela e rompe a pele da aparência derramando uma torrente gordurosa de pus. 
O seu odor infecta e apodrece a fibra frouxa dos mais fracos de compreensão. 

 Não há blush que embeleze o tumor da alma.

(meditando às pressas antes do almoço, 15.07.19)



terça-feira, 28 de maio de 2019

Limpe a lente, fí!




Não adianta forçar a barra 
Você sabe quando não ha esperança
Tem gente que é tristeza destilada
Que é angustia em carne viva

O hálito pode ser de menta
Mas as palavras Co2 puro e simples
Ficar perto arrebenta os pulmões
Demorar-se ali, intoxica o sangue
O seu toque é nicotina em doses alopáticas
Parece aplacar a ânsia, mas é ledo engano

Eis a questão:
 Usar mascara de gás e roupão impermeável
pondo uma camisinha na existência
Ou buscar novos ares?
Porque pro inchaço da alma
Não há faceotomia que dê jeito!

 (depois do almoço que não comi)
13:11 horas 
28/05/19

segunda-feira, 13 de maio de 2019

O outro filho da nossa mãe




O outro filho da nossa mãe tem dentro de si um irmão virtual. 
Não nasce irmão mas pode vir a sê-lo.
Há quem veja o oceano de experiências possíveis e agarre a chance. Também há quem desperdice a oportunidade. 
Fico refletindo no quanto desperdiço...
Fico de luto por mim e pelos meus que perdem...

(Reflexão sobre a morte do irmão do meu Irmão)
(06/05/19)

domingo, 5 de maio de 2019

Deseja um cafezinho? Ou quem sabe umas quitandas?




Deseja um cafezinho? Ou quem sabe umas quitandas?


- Não obrigado. (respondi).
- Tem certeza, posso passar um café agora para você.
- Achei que já tava pronto! Vai assar os biscoitos também?! (risos)
- Não, já comprei, compro todo fim de tarde.
- Metodicamente?
- Sim! (riu um riso de boneca barata).
- Você ta bem?
- Estou. Por que?
- Parece desconfortável.
- Como?!
- Estou tentado dizer que parece que existe um cacto invisível entre você e o encosto do sofá, te deixando em uma posição que, a meu ver, as pessoas não suportam ficar por muito tempo.
- Cacto? (riu sem mover as sobrancelhas, rosto, braços e pernas).
- (Silêncio)...
- Aceito um copo d’água.

O improviso não passou de um clichê barato, mas sob clima rarefeito, só deu pra pensar nisso. Precisava fazer uma pausa silenciosa aqui. Ganhar tempo. Cacto? Acredito que no contexto que usei essa palavra ficou clara, mas, fiquei intrigado com as estranhas possibilidades de significados que “cacto” pode vir a ter quando vem unitária em uma exclamação, seguida apenas por um rosto pouco expressivo e um corpo inerte. A dúvida ecoou. Confesso que fiquei preocupado. Aprendi logo cedo que pessoas que riem sem mover as sobrancelhas geralmente têm problemas sérios.

Ela retornou com a água e sentou em outro sofá. Manteve-se à mesma distância de mim e repetiu a pose. Tomei a água como se fosse suco e fiz perguntas que implicam em respostas pessoais. Ela respondeu de forma barroca. A voz era dela mas as palavras e idéias, de um idoso antiquado. Não pensou, replicou.

Tentei ser otimista, mas sou péssimo nisso. Meu esforço durou apenas meia hora. Longa meia hora. Então, olhei para ambos os lados, agradeci a água, criei um compromisso sem título, me levantei e me despedi. Ela me cumprimentou de longe e de leve, segurando meus dedos com as pontas dos seus dedos e olhando para minha gola. Ficou claro como a água, não havia motivo para estar ali.

Saí ao léo, sentei num banco de praça e paguei um pastel a um mendigo bêbado. O pasteleiro, o bêbado, eu e uns pardais comemos e rimos muito enquanto o sol do fim da tarde aquecia meus cabelos. A boca da noite veio sorrindo, e eu a beijei feliz.

Um tempo depois fiquei sabendo que aquela moça gostava de mim. Ela disse a alguém que gostava da minha companhia, que eu era bom de papo e engraçado. Saber disso deu algum sentido ao convite mas, Deus, que moça estranha. 

Ela tinha a feição e a voz agradável, contudo, a formalidade gratuita deixava seu olhar opaco. Afugentava a vida. Parecia uma casa vazia.

Cá entre nós, mesmo sabendo do seu apreço não destilei uma gota sequer de culpa. E que formalidade me cansa, não tem outra forma de dizer isso. Peraí, acho que tem: a formalidade é tóxica, apodrece até os ossos. Sério. Sei que soa estranho para alguns, mas é que ultimamente tenho me deparado com muita gente que confunde educação com formalidade e pior, é formal até dentro de casa. Ora, se vou à casa de alguém como pessoa e não prestando um serviço, estou cedendo uma fatia do meu tempo de vida. Estou “vivendo com essa pessoa” por alguns momentos. Isso é coisa séria. Meu tempo de vida é muito precioso, pois, ao que tudo indica, só tenho essa chance de viver, então, da mesma forma que não quero gastar muito dinheiro comprando um objeto de pouco valor, também não quero disponibilizar meu tempo de vida consciente com alguém que senta em seu próprio sofá de forma visivelmente desconfortável, coluna reta, queixo erguido, vestindo um traje que sei que ela não usa costumeiramente e diz:

“Deseja um cafezinho? Ou quem sabe umas quitandas?"

Bizarro. Parecia que ela estava tentando esconder um corpo. No primeiro momento fiquei assustado. No segundo pensei em fazer sala, coisa que odeio, só para mantê-la naquela posição alguns instantes mais, por pura pirraça. Ouvir: “Deseja um cafezinho? Ou quem sabe umas quitandas?” soou plástico demais pra mim. Me oferecer um café assim já é o cumulo da formalidade, a pose e a conversa seguinte foram como colocar na boca uma moela inteira e descobrir que está cheia de pedriscos por dentro. Eu tinha que sair pra cuspir.

- “Aceito um copo d’água.”

Disse isso tentando ter esperança e boa fé. Não quero soar extremista, a formalidade é uma ferramenta útil, casa bem com ambiente de trabalho, vendas e apresentação de projetos. Só! Quando um humano procura outro humano, assim de forma espontânea, é porque ele quer vivenciar uma troca afetiva. Nesses casos um escambo de memórias quase sempre cai bem. Mas esse tipo de negócio afetivo só funciona bem em ambiente propicio e adornado de frases e gestos ora belos ora deselegantes, desses regidos pelo improviso sincero. Esses elementos em conjunto são muito envolventes. A eles se dá o nome de espontaneidade. Esta, por sua vez, é uma das virtudes mais importantes para que ocorra uma troca/relação afetiva singular, ou seja, marcante. 
Todos nós temos um anel sinete, a nossa identidade. Quem realmente somos. As vezes essa joia fica perdida, sufocada pela pilha de entulho das memórias mal resolvidas, dos preconceitos hereditários e tradições familiares. Geralmente alguém assim é um desconhecido pela própria família. Nunca conheci uma pessoa formal bem resolvida, leve e realmente feliz.
Se alguém deseja ser único e marcante, precisa deixar de se esconder, encarar a realidade, impor/apresentar-se à família e amigos, deve soltar as amarras da alma. Deve vestir a própria pele, rir seu próprio riso a vontade, fazer o que gosta e falar do que gosta.
Apenas quem trilha esse caminho é realmente conhecido pela sua família e amigos. Quem enfrenta o desafio de ser quem é não precisa se esconder atrás do monturo da formalidade doméstica. 
Quer me conhecer? Me convide para um café na cozinha, traga uns biscoitos de leveza, sente-se como se estivesse só. Deixe o viajante que abita em você trocar umas fatias de memória com o viajante que abita em mim. Vale até falar de boca cheia só não vale ser formal. A formalidade brocha a minha alma.

Rômulo Rangel

sexta-feira, 26 de abril de 2019

O sonho abandonado




Cão sem dono, Gato arisco 
Cavalo, sem cela, abatido 
Rato colono, pardal corisco 
Nos, na mesma avenida 
No mesmo sentido 



O mendigo, o bebum 
O vulgar e o desprezado 
O Barato e o comum 
O sonho abandonado
São, quase sempre, um.... 

(18:50) 18.04.15